Nos últimos meses, grandes empresas brasileiras, como Cosan e CSN, anunciaram cortes de investimentos, desalavancagem e até a venda de ativos. Esse movimento reflete uma mudança nas expectativas econômicas para 2024, marcada pela alta dos juros e pelo agravamento do cenário no Brasil e no exterior.
No início do ano, as projeções apontavam para uma Selic de 9% ao final de 2024, mas a recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa para 12,25%, com indicativos de novos aumentos de 1 ponto percentual. Esse cenário impacta diretamente o apetite das empresas para novos investimentos, já que o alto custo do capital torna projetos menos rentáveis.
Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, afirmou que com juros entre 12% e 13% não há retorno positivo em novos investimentos. A Cosan, portanto, está considerando desinvestimentos em unidades como a Raízen (energia renovável), a Compass (gás e energia) e a Moove (lubrificantes), como forma de reduzir sua alavancagem.
O impacto também é visível em empresas do setor de shoppings. O Grupo Sá Cavalcante, dono de seis empreendimentos no Brasil, adiou o lançamento de um novo projeto devido ao aumento do custo de capital. Marcelo Rennó, diretor de operações, afirmou que o financiamento ficou mais difícil ao longo do ano devido aos juros elevados. Com isso, a empresa espera lançar o projeto somente entre 2025 e 2026.
João Pedro Viola, diretor-executivo da área de Financial Advisory & Special Situations da Alvarez & Marsal, explica que o aumento do custo do dinheiro fará as empresas revisarem suas estratégias, priorizando projetos com retornos mais viáveis e podendo optar por retenção de lucros e vendas de ativos. Viola também alerta que algumas empresas podem recorrer ao mercado de ações por meio de ofertas subsequentes (follow-on), embora essa alternativa não seja ideal no momento, dada a subvalorização das ações.
Carlos Antonio Rocca, professor do Cefeb Fipe, acrescenta que o aumento das despesas financeiras devido aos juros elevados afetará o fluxo de caixa das empresas, forçando-as a revisar suas operações e estratégias financeiras para o próximo ano.