A recente publicação dos dados de emprego nos EUA, que mostraram um aumento da taxa de desemprego para 4,3%, acima do esperado, provocou temores de uma recessão iminente, levando a quedas significativas nas bolsas de valores. No entanto, analistas afirmam que uma recessão nos Estados Unidos não é inevitável, apesar das preocupações crescentes.
Gregor Hirt, diretor de Investimento Global em Multiativos da AllianzGI, explicou que os mercados globais estavam antecipando dados econômicos mais fracos dos EUA para justificar cortes nas taxas de juros por parte da Reserva Federal. Contudo, ao serem confrontados com números mais fracos, como o relatório de emprego, os investidores reagiram com medo. Hirt destacou que esta situação ocorre num cenário de fraqueza geral no setor tecnológico, agravada pelo aperto nas taxas de juro pelo Banco do Japão.
Na segunda-feira, o índice Nikkei do Japão caiu 12,4%, marcando seu pior dia desde 1987, enquanto as bolsas de Nova Iorque também fecharam em queda, com o Dow Jones e o S&P 500 atingindo mínimos de dois anos. A recuperação do iene, resultante da mudança na política monetária do Banco do Japão, adicionou uma camada de preocupação, impactando as exportações e contribuindo para o pessimismo no mercado asiático.
Hirt apontou que a decisão do Banco do Japão de aumentar sua taxa de juro diretora foi um fator crítico que afetou a estabilidade financeira global. Muitos investidores estavam utilizando o iene japonês (JPY) para financiamento devido à previsível volatilidade da moeda. A intervenção inesperada do banco central “quebrou” essas negociações, levando a grandes realocações por parte dos investidores, impactando não apenas o mercado acionista japonês, mas também os mercados emergentes e, em parte, o Nasdaq.
Apesar das turbulências, houve sinais de melhoria, com o Nikkei fechando em alta de 10,23% na terça-feira. Em relação à economia dos EUA, Hirt acredita que os dados não tornam uma recessão inevitável. O relatório de emprego reduz a probabilidade de uma “aterragem sem aterragem” — onde a economia continua a expandir-se apesar dos esforços do banco central para conter a inflação — e aumenta as chances de uma aterragem suave ou de uma recessão. O cenário base continua a ser uma aterragem suave, mas a recente volatilidade do mercado sugere uma reavaliação das perspetivas.
Henrique Tomé, analista da Xtb, também compartilhou que, embora haja fundamentos para os receios devido às mudanças na economia refletidas nos indicadores econômicos, ainda é prematuro falar de uma recessão. Dados recentes mostraram um aumento na atividade econômica em relação ao mês anterior, superando as expectativas dos analistas.
Os temores de uma recessão nos EUA também estão afetando as bolsas europeias. Tomé destacou o ditado “quando a América espirra, o mundo constipa-se”, indicando que uma recessão nos EUA certamente afetaria a Europa e sua recuperação.