Milhares de cubanos estão nas ruas nos últimos dias protestando contra o governo. A movimentação é tanta que este já é o maior protesto da história recente do país. Em toda a ilha, pessoas estão pedindo por “liberdade” e “abaixo a ditadura”.
Do outro lado, o presidente do país, Miguel Díaz-Canel, fez um pronunciamento na TV para convocar seus apoiadores a tomarem as ruas para “confrontar” os manifestantes.
Em entrevista à BCC News, um manifestante disse: “Isso é pela liberdade do povo, não aguentamos mais. Não temos medo. Queremos uma mudança, não queremos mais ditadura”.
A manifestação teve início em San Antonio de los Baños e rapidamente se espalhou por toda a nação, principalmente por meio das redes sociais. Porém, as ações foram duramente reprimidas pelo governo.
A ilha tem vivido dias difíceis. Sobre a questão da pandemia, ela estava sob controle nos primeiros meses de 2020, mas houve um recrudescimento de casos nas últimas semanas que a levou a estar entre os locais com mais casos registrados em relação à população na América Latina.
No último domingo, por exemplo, a ilha registrou oficialmente 6.750 casos e 31 mortes, embora vários grupos de oposição denunciem que os números não refletem a situação real e que muitas mortes por Covid-19 são atribuídas a outras causas. Além disso, na última semana o recorde de infecções e mortes foi quebrado, levando ao colapso de vários centros de saúde.
Já o presidente disse que a situação atual é igual à de outros países e que chegou tarde a Cuba porque antes o governo havia conseguido controlar o vírus. Também afirmou que Cuba produziu suas próprias vacinas contra o coronavírus, embora a administração das doses ainda seja limitada na maioria das províncias.
Com a pandemia, a situação econômica da ilha foi profundamente impactada, já que o turismo, um dos principais motores da economia, está praticamente paralisado. Soma-se a isso a alta inflação, apagões, escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos.
Dada a falta de liquidez em moeda estrangeira, o governo promoveu desde o ano passado a criação de lojas onde só se pode comprar com contas em moedas livremente conversíveis (MLC). Alimentos e bens de primeira necessidade são vendidos em moedas nas quais a população não recebe seu salário.
Os medicamentos básicos tornaram-se escassos tanto nas farmácias como nos hospitais, e em muitas províncias houve a venda de pão à base de abóbora por falta de farinha de trigo. Já o governo atribui a situação caótica na economia ao embargo norte-americano. Em seu pronunciamento, Díaz-Canel assegurou que este é “o principal problema que ameaça a saúde e o desenvolvimento de nosso povo”.
Com o advento da internet, agora os cubanos estão se comunicando em várias partes do país, o que permitiu a organização desta manifestação. Hoje, grande parte da população, principalmente os jovens, tem acesso ao Facebook, Twitter e Instagram, que também são seus principais canais de informação sobre o discurso oficial da mídia estatal.