A contagem praticamente final dos votos das legislativas de 18 de Maio confirmou uma mudança estrutural no mapa político português. A coligação Aliança Democrática (AD), de orientação centro-direita e liderada por Luís Montenegro, conquistou 32,7% dos votos, assegurando o primeiro lugar. O Partido Socialista (PS) e o Chega terminaram em empate técnico, ambos com cerca de 23%, sinalizando uma redistribuição relevante das forças parlamentares.
AD cresce com apoio da coligação e quebra da lógica tradicional
O desempenho da AD só se tornou possível pela força do seu formato de coligação. De acordo com análise externa, “O AD venceu e isso tem relação com a coalizão que determinou ser centro-direita. Se fosse apenas o antigo PSD, possivelmente não teria a mesma força.” A leitura mais imediata é que a estratégia conjunta deu frutos, oferecendo à direita um espaço de convergência política e eleitoral que ultrapassou o tradicional domínio do PSD.
Novo Parlamento: fragmentação evidente e recuo do PS
O PS e o Chega somaram, cada um, 58 lugares no Parlamento, enquanto a AD alcançou 89 assentos. Os demais partidos tiveram resultados modestos: Iniciativa Liberal (9), Livre (6), CDU (3), entre outros. Este resultado representa uma das maiores perdas históricas do PS desde os anos 80, com impacto directo na liderança do partido, agora abandonada por Pedro Nuno Santos. Como observado, “O PS venceu em regiões mais pobres, um gráfico comum da esquerda em todo o mundo.” Este padrão geográfico repete-se em diferentes democracias ocidentais.
O Chega e a afirmação da nova direita
Fundado recentemente, o Chega posicionou-se com rapidez como uma força eleitoral de peso. O seu crescimento é interpretado como reflexo do descontentamento com os modelos tradicionais e da procura de discursos mais contundentes sobre temas como imigração, justiça e economia. “O Chega em segundo, mostra o quão rápido à direita cresceu em Portugal, um partido novo, mas que toma proporções rápidas de crescimento.” A mensagem do partido rompe com o eixo histórico PS/PSD, alimentando uma nova polarização.
Um novo ciclo político para o país
O que aconteceu em Maio de 2025 representa mais do que uma simples alternância. É uma reconfiguração da paisagem política nacional. Com uma direita mais articulada, uma esquerda em declínio e uma extrema-direita em crescimento, o Parlamento português reflete um novo equilíbrio de forças que exigirá negociações constantes para garantir a estabilidade governativa.
Esta transformação, contudo, não é exclusiva do contexto português. Em vários países da Europa, observa-se o mesmo movimento: o centro político tradicional perde espaço para forças que contestam o status quo e capitalizam sobre as fragilidades institucionais. Portugal está, assim, alinhado com esta tendência continental de redefinição do debate público e das prioridades eleitorais.
A fase que se inicia exigirá maior capacidade de articulação política, responsabilidade institucional e leitura precisa das novas exigências sociais. O que está em jogo é mais do que quem governa — é como o sistema se adapta a uma nova era de maior fragmentação e competitividade política.