Estudos mostram que a necessidade de isolamento social para tentar conter a contaminação pelo novo coronavírus tem aumentando a obesidade na população jovem. Pesquisadores do Hospital das Clínicas de São Paulo acompanharam 66 crianças, em 2020, e constataram que 47 delas tinham ganhado, em média, 5 quilos durante a pandemia da Covid-19.
Em Santa Catarina, mesmo antes da crise sanitária, os números já eram preocupantes. Até 2050, a obesidade e o sobrepeso podem se tornar o principal problema de saúde dos catarinenses. Segundo pesquisas conduzidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a obesidade atinge uma em cada dez crianças de seis a 10 anos de idade em Santa Catarina. Entre quem tem quatro e seis anos, o índice é de 7,5%. Apenas em Florianópolis, o sobrepeso chega a 30% de todos os alunos do ensino fundamental.
“O isolamento social leva ao uso, cada vez maior, de computadores, videogames, celulares, entre outros eletrônicos que servem de distração, mas contribuem para o sedentarismo e baixa queima calórica. É fundamental que os pais incentivem hábitos saudáveis no filhos como adotar uma dieta balanceada e praticar atividades físicas, sem deixar de lado a segurança”, analisa a endocrinologista Cristina Schreiber, consultora do Sabin Medicina Diagnóstica.
Identificar é fundamental
De acordo com a médica, identificar a condição de obesidade na criança é o primeiro passo para ajudá-la. Para isso é necessário marcar uma consulta com um pediatra para realizar a avaliação de altura e peso conforme a idade (gráfico que está na carteirinha de saúde da criança). Resultados alterados na curva sinalizam para possível sobrepeso e obesidade.
A partir daí, o médico indicará testes laboratoriais para descobrir a origem do problema. “Há pacientes que ganham peso por questões hormonais, metabólicas, predisposição genética. Nem sempre a obesidade tem relação com alto consumo de alimentos ou sedentarismo. Algumas vezes, é preciso fazer exames mais específicos, como THS e T4 livre (hormônios da tireoide), para saber se o paciente não tem hipotireoidismo, condição que também causa obesidade. Ou seja, o diagnóstico da obesidade é clínico, mas suas causas precisam ser rastreadas”, esclarece a endócrino.
Risco de doenças associadas à obesidade
A obesidade pode vir acompanhada de outros problemas de saúde. A dra. Cristina alerta para a necessidade de estudar o histórico familiar do paciente. “Em alguns casos, a comorbidade traz junto doenças como pressão alta ou diabetes. Essas condições só são confirmadas através de exames e envolvem também históricos familiares”, explica a doutora.
O aumento de peso também pode causar ainda a puberdade precoce. Estudos apontam que o sobrepeso pode causar alterações hormonais e antecipar o aparecimento de caracteres sexuais, especialmente, nas meninas. Entre eles estão pelos pubianos (pubarca), brotos mamários (telarca) ou a primeira menstruação (menarca).
“Em laboratório, utilizamos dosagens de hormônios do eixo gonadotrófico (FSH e LH), estradiol e testosterona. Com esses exames, é possível saber se a obesidade está afetando o tempo de início da puberdade”, explica a endocrinologista. O ideal é procurar o pediatra ou um médico clínico de confiança para realizar a avaliação necessária. Quanto mais cedo for o diagnóstico e tratamento, menor o risco de desenvolver as complicações.