A morte do soldado da Polícia Militar da Bahia ainda está rendendo muita polêmica. O policial militar baiano, em meio a um surto, atirou diversas vezes para cima e contra colegas de profissão. Após não conseguir negociar com ele, agentes do BOPE realizaram uma ação que terminou com sua execução. Neurocientista Fabiano de Abreu explica deve-se lidar em situações como essa e mostra de que maneira surtos desse tipo podem acontecer com qualquer pessoa.
Na noite do último domingo, o soldado Wesley Soares, da Polícia Militar da Bahia, estava em um surto psicótico enquanto atirava diversas vezes para cima e contra outros policiais na região do Farol da Barra. Após 3h30 de negociações sem sucesso, agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) tiveram que intervir e o resultado da ação foi a morte do soldado.
A morte do militar trouxe à tona o debate se o policial estava certo ou errado em suas manifestantes, sendo que tais questões estão sendo amplamente comentadas por políticos da base e da oposição ao governo federal. O que pouco se falou até o momento é sobre as razões que causaram este surto e como esta situação pode provocar sérios problemas para a pessoa e aqueles que a cercam quando acontecem crises como essa.
O que é o surto psicótico e como ele se manifesta
Segundo o Phd em Ciências da Saúde nas áreas de Psicologia e Neurociências, Fabiano de Abreu, diversos fatores relacionados às condições psicológicas podem levar a um surto psicótico, sendo que “a psicose é um indício das formas mais graves de transtorno mental, e pode se manifestar repentinamente”, explica.
Além disso, Abreu observa que algumas causas são possíveis para provocarem crises como essa, dentre elas exemplos como “doenças hepáticas, hormonais, doenças que afetam de forma significativa o sistema imunológico. Além disso, causas relativa a disfunções graves nos neurotransmissores, e isso pode ser causado pelo abuso ou abstinência de substâncias químicas, medicamentos, lesões cerebrais, ou qualquer coisa que possa afetar o sistema nervoso central”, detalha.
Quando estão surtadas, “as pessoas costumam perder o contato com a realidade. Elas ficam com uma fixação exagerada em algo derivado do emocional que impede o envio de informação para a região racional do cérebro. A pessoa fica presa em sua própria atmosfera e realidade não percebendo as nuances ao seu redor, com falhas cognitivas. Se fecha em um estado perturbador, crítico que pode resultar até mesmo na morte de alguém ou suicídio”.
Para se ter ideia, a própria nota Secretaria de Segurança Pública da Bahia confirma que o soldado estava transtornado naquele momento: “O soldado alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos. Além dos tiros de fuzil, o soldado arremessou grades, isopores e bicicletas, no mar”, afirmou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, em comunicado sobre o caso.
Como agir com uma pessoa surtada?
Por outro lado, o neurocientista Fabiano de Abreu pondera que a melhor maneira de agir diante de uma pessoa com curto psicótico é mantendo a calma e não parecer que está sob uma ameaça. “Uma pessoa com surto psicótico não pode ser confrontada ou sentir-se acuada. Não procure familiares pois envolver sentimentos pessoais não fará a diferença já que a pessoa está agindo de forma irracional. Deve-se chamar um serviço especializado em remoção para uma clínica especializada para tratar do socorro e auxílio”, reforça.
Sobre o perfil das pessoas que estão sujeitas a terem crises como essa, Fabiano acredita que “policiais são mais propensos a estes surtos que muitas outras profissões devido à rotina e pressão que enfrentam. Eles estão sujeitos a alterações hormonais devido à falta de sono e ao estresse constante. A própria genética pode influenciar o surto de acordo com o indivíduo. Um policial não faz testes genéticos completos para saber se a rotina desta vida profissional pode resultar em problemas no futuro ou devido a uma pressão maior devido às circunstâncias do momento. Estamos em um momento em que o controle emocional é primordial para que possamos atingir o equilíbrio”, reforça o especialista.
Haveria outra forma de agir nessa situação do PM baiano?
Enquanto os debates acerca da morte do soldado da PM se restringem ao campo ideológico e político, não se comenta com a mesma intensidade outros aspectos sobre a ação do BOPE, dentre eles: A vida deste policial poderia ser preservada de alguma outra maneira? Poderiam ser usadas outras técnicas de negociação? E se as pessoas que fizeram a negociação tivessem desarmadas, como poderiam lidar com este cenário?
Por um lado, o comandante do Bope, major Clédson Conceição, afirmou que os militares tentaram a melhor solução para essa situação “Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores.”
Contudo, o neurocientista Fabiano de Abreu sugere que as forças policiais utilizem um outro elemento a partir de agora quando se depararem com um indivíduo surtado. “A pessoa quando está surtada precisa de ajuda, mesmo que naquele momento não consiga reconhecer isso e esteja colocando a vida de outros em risco. Mas, para preservar a vida de quem passa por situações como essa, uma sugestão que faço é que os militares possam usar armas com algum tipo de tranquilizante. Assim a pessoa estará sedada, sem poder de reação, e poderá ser encaminhada para o melhor tratamento indicado”, completa.
E o tratamento?
Para quem sofre um surto psicótico ou precisa ajudar uma pessoa que passa por uma situação como essa, uma boa notícia: ele pode ser controlado e tem tratamento médico, observa Fabiano. “Após um diagnóstico minucioso, realizado por especialistas de diferentes áreas do conhecimento, pode-se oferecer técnicas de tratamentos psicológicos e psiquiátricos com uso de medicamentos que possam controlar o estado do indivíduo”, finaliza.