A seguradora de crédito Euler Hermes divulgou nesta semana seu Índice de Viabilidade Digital (IVD), que mede a capacidade e agilidade dos países em ajudarem as empresas digitais a prosperar. O índice é composto por 115 nações com base em cinco critérios: regulamentação, conhecimento, conectividade, infraestrutura e tamanho.
De acordo com a análise do economista Georges Dib, Estados Unidos, Alemanha e Dinamarca estão novamente entre os três primeiros, sendo que em 2020, os EUA mantiveram a liderança absoluta devido ao avançado ecossistema de conhecimento, tamanho de mercado e regulamentação favorável.
Já a Alemanha, apesar de apresentar bons resultados em conhecimento e infraestrutura, caiu em qualidade de conectividade, apesar da tendência de aumento contínuo no número de servidores seguros.
A Dinamarca começou 2020 com o melhor desempenho em conectividade. Depois de triplicar seu número de servidores seguros em 2018, o país atingiu um número maior do que a China e o Canadá (com uma população de apenas 6 milhões de pessoas).
Brasil fora do Top 40
O Brasil ficou em 64º lugar no ranking global de (IVD) Índice de Viabilidade Digital para 2020, perdendo 5 posições em relação a 2019. Entre as cinco maiores economias da América Latina – Brasil, México, Argentina, Colômbia e Chile – o Brasil vem depois do Chile e do México no ranking de 2020, com um pontuação de 42, mesmo sendo a maior economia da América Latina. Embora o Brasil tenha caído 5 classificações (ou seja, sua pontuação relativa diminuiu), a pontuação aumentou ligeiramente (+2 pontos em comparação com 2019).
Isso significa que o ambiente favorável à digitalização no Brasil aumentou ligeiramente nos últimos anos, mas não tão rápido quanto os demais países.
Olhando para as pontuações de cada uma das cinco subcategorias de (IVD) – conectividade, infraestrutura, regulamentação, conhecimento e tamanho – as pontuações do Brasil 2020 pioraram ligeiramente nas categorias de conectividade e regulamentação. No entanto, a pontuação de conhecimento do Brasil melhorou muito em 2020, denotando um progresso real na construção de capital humano e no potencial de inovação na economia.
Onde o Brasil precisa investir para melhorar seu posicionamento no ranking?
O economista explica que, ao comparar o Brasil com seus pares da LATAM, ele se beneficia da maior pontuação de tamanho do mercado, mas ainda fica para trás quando se trata de conectividade, infraestrutura e regulamentação de negócios. Por enquanto, o Brasil carece e pode melhorar:
– Redes seguras e acessíveis para transformação digital
– Um forte desempenho logístico que atua como facilitador da atratividade digital
– Um ambiente de negócios propício que favoreça o financiamento, o investimento e o empreendedorismo
Para efeito de comparação, o Brasil conta com 67,5 usuários de Internet por 100 pessoas e 0,3 servidor seguro por 100 pessoas, enquanto o Chile – que é a única economia da América Latina no ranking global de IVD 40 – tem 82,3 usuários de Internet por 100 pessoas e 1,1 servidor seguro por 100 pessoas. Finalmente, no aspecto de eficiência da regulamentação de negócios, o Brasil também tem espaço para melhorar, alcançando a pontuação de 59 no índice World Bank Doing Business de 2020, enquanto o Chile obtém uma pontuação de 73.
“Para resumir, o Brasil fez um progresso significativo no que diz respeito a conhecimento digital, mas precisa investir fortemente nas categorias de conectividade, infraestrutura e regulamentação se deseja entrar no ranking dos 40 melhores”, afirma Georges Dib, economista do grupo Euler Hermes.
Aproveitamento das ferramentas digitais durante a crise da Covid-19
Foi estabelecida uma cooperação entre o Ministério da Economia (ME) e o Ministério da Saúde para a criação de uma plataforma digital (SineSaúde) com o objetivo de promover e facilitar a contratação de profissionais para atuar no combate à pandemia.
Em junho de 2020, o Governo Federal anunciou que havia transformado 150 serviços em digital, incluindo 46 novos serviços da Agência Reguladora de Saúde Suplementar (ANVISA) e do Seguro Desemprego do Empregado Doméstico.
No total, o órgão central responsável pela transformação digital do Governo Federal relatou em setembro de 2020 que os esforços de digitalização do governo brasileiro ajudariam o setor público a fazer economias fiscais significativas, ao mesmo tempo que fortalecia a resiliência brasileira durante esta pandemia.
Finalmente, o Brasil digitalizou o uso de modelos baseados em contas para pagamentos de proteção social. Por exemplo, o Brasil implementou em seu programa de Auxílio Emergencial, uma conta de poupança social totalmente digital que só poderia ser operada por meio de canais digitais, mas permitia saques com cartão não presente em caixas eletrônicos e agentes. A conta está isenta de taxas de manutenção mensais e tem serviços básicos gratuitos, incluindo três transferências interbancárias por mês e dois saques em dinheiro.
A digitalização também permitiu ao Brasil atingir um nível muito alto de precisão por meio da coleta de dados online que quase suprimiu a inscrição de destinatários inelegíveis para seus principais programas de ajuda de emergência.
Força asiática
“Ainda assim, a ascensão da China parece imparável. Nos três anos anteriores ao surto da Covid-19, o país passou da 17ª para a 4ª posição. Os chineses têm visto suas pontuações crescerem em todos as categorias: regulamentação (+7,4), conectividade (+1,3) e conhecimento (+12), esta última devido a um aumento na capacidade de inovação em 2019. No entanto, ainda existe margem para o país aumentar as habilidades digitais de sua população. Isso permitirá que as empresas chinesas explorem o potencial de inovação com mais eficiência”, explica Dib.
Os dados também mostram que outras nações asiáticas fizeram progresso: Hong Kong, agora na 7ª posição, anteriormente na 11ª. Coréia do Sul, na 12ª posição acima da 16ª posição do senso anterior. Seis dos 15 principais viabilizadores digitais estavam na região Ásia-Pacífico no final de 2019. Outras progressões notáveis incluem o Vietnã de 67ª para 57ª e a Arábia Saudita de 53ª para 41ª, confirmando uma clara vontade de transição para um novo modelo de crescimento.
Aumento de gastos e lockdown
“Nossas estimativas mostram que um ponto adicional na pontuação no Índice de Viabilidade Digital de um país em 2020 se traduziu em +0,25 pp de crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2020 a/a, sugerindo que a digitalização desempenha um papel de amortecedor”, explica o economista.
A interpretação econômica de Dib é que os países cujo ambiente era mais propício à digitalização (boa conectividade, tamanho de mercado, regulamentação, logística e conhecimento) responderam à crise acelerando sua transformação digital.
Segundo o economista, esses países, provavelmente, implementaram processos digitais em suas respectivas estruturas burocrática-administrativas para ajudar empresas e cidadãos a receber ajuda financeira ou sanitária rapidamente; do lado da demanda, o consumo com a ajuda de plataformas da web manteve o comércio resiliente; e, do lado da oferta, em termos de formas de trabalho das empresas (trabalho remoto, redução da jornada de trabalho etc.).
“Nossas estimativas também apontam para uma relação estatisticamente significativa entre três variáveis: o desempenho econômico de um país, a participação do setor de serviços na sua economia e o aumento do seu déficit fiscal. As economias orientadas para serviços (artes, recreação, restaurantes, hotéis e outros setores relacionados ao turismo) sofreram relativamente mais. Quanto à ampliação do déficit público, parece que o aumento dos gastos está associado à gravidade das medidas de lockdown; os países mais agressivos no fechamento de suas economias recorreram a ações compensatórias do lado fiscal para absorver o choque”, afirma.
Critérios de avaliação
Agrupando países nas variáveis de regressão da seguradora, foi identificado um primeiro cluster contendo aqueles com altas pontuações de IVD, bem como déficits significativos e uma forte participação de serviços no valor agregado total. Para este grupo, formado principalmente por países europeus e China, a variação média do PIB é de -3%: uma recessão forte, mas muito melhor do que as nações com pior desempenho.
Como o primeiro cluster continha a maioria dos países, fez-se uma nova separação para obter mais granularidade e precisão, dividindo-o em dois grupos. De acordo com a análise do economista, ficou claro que, embora ambos tenham apresentado reações comparáveis do PIB à crise, um era muito mais digitalizado e com maior participação nos serviços do que o outro.
Este primeiro subgrupo de países estava muito mais exposto à crise (uma vez que adotaram medidas mais pesadas de ficar em casa e dependeram muito mais de serviços, a parte mais sensível da Covid-19 da economia), e ainda assim conseguiram limitar as perdas econômicas da mesma forma que o segundo subgrupo, graças ao seu alto potencial de digitalização. Neste grupo se encontram EUA, Dinamarca, Alemanha, China, Reino Unido, Cingapura, Suíça, Suécia, Áustria, França, Finlândia, Austrália, França, Bélgica, Espanha e Luxemburgo.
O segundo cluster é o “mediano”, formado por países com valores medianos de cada variável. Esta lista é diversa, incluindo alguns países da Europa Ocidental e da América Latina, que se saíram pior em termos de desempenho do PIB (-8%).
O terceiro cluster compreende os mais atingidos pela crise e aqueles com o menor IVD e altos gastos fiscais em 2020 em comparação com 2019: principalmente países da América Latina e do Oriente Médio. Seu desempenho econômico médio é de -9,4% a/a no terceiro tri. Esses países também implementaram as medidas de restrição mais rígidas e foram forçados a usar a política fiscal para absorver o choque.
O último cluster compreende as nações onde um desastre foi evitado: eles têm baixo IVD e baixo gasto fiscal, mas enfrentaram um choque econômico benigno (-2% a/a no terceiro trimestre) em relação ao resto da amostra. “A maioria desses países está localizada na África, onde a pandemia não se espalhou tão amplamente como no resto do mundo: a atividade não foi interrompida por medidas governamentais e o estado não recorreu a programas de gastos fiscais excessivamente grandes para salvar a economia”, afirma Dib.